27 de abril de 2006


"Nós não te demos nem lugar preciso, nem forma que te seja própria, nem função particular, para que, segundo os teus desejos e descernimento, possas tomar o lugar, a forma e as funções que desejares(...). Tu, que nenhum limite constrange, de acordo com a livre vontade que colocámos nas tuas mãos, decidirás dos próprios limites da tua natureza. Colocámos-te no centro do mundo para que daí possas observar facilmente as coisas. Não te fizemos nem celeste, nem terreno, nem imortal, nem mortal, para que, por teu livre arbítrio, como se fosses o criador do teu próprio modelo, tu possas escolher e modelar-te da forma que preferires. Poderás degenerar até aos seres que são as bestas, poderás regenerar-te até às realidades superiores que são divinas, por decisão do teu ânimo."

Pico della Mirandola, Discurso sobre a Dignidade do Homem

Numa aula de história deparei.me com este belo texto e começei a pensar... Será que perdemos esta 'qualidade' de nos modelarmos ?
Hoje em dia parece impossível que um individuo seja capaz de se modelar a si proprio, ficamos sempre com a ideia de que fomos modelados pelo tempo e pelo mundo que nos rodeia. Por vezes deixamo.nos ir na corrente e desistimos de nos modelar e contentamo.nos em ser simplesmente nós (seja lá o que isso for!).
'Isso só acontece aos outros' é um típico pensamento português. Este pensamento surge quando nos falam em prevenção e quando nos dizem para tentar a nossa sorte, para irmos à luta. Na primeira situação normalmente não nos prevenimos porque a nós não nos acontece só às pessoas más e nós nao somos pessoas más. Na segunda situação nós nao tentamos porque so ganham os outros, as pessoas boas e nós tambem não somos pessoas boas, temos os nossos pecados. Conclusão, não somos pessoas boas nem más, nao nos acontece nada de bom mas tambem nao nos acontece nada de mau. Afinal, o que é que nos acontece ?
Somos apenas normais e não queremos mais que isso, achamos que somos felizes assim porque nunca experimentamos nada mais que este dia.a.dia...
Montaigne disse:
"Que se lhe proponha esta diversidade de juízos: ele escolherá, se puder; se não, ficará na dúvida."
Nós podemos escolher... E escolhemos ficar na dúvida.

5 comentários:

Beko disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Beko disse...

A dúvida é, sem dúvia, dubiamente reconfortante.. pois sem ela (a dúvia) seriamos (indubitalmente) infelizes com a certeza da normalidade

Anónimo disse...

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Não ligues, o rapaz pensa que és outra pessoa...

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